Wu Wei – A Sabedoria de Não Forçar

 

Quando falamos de Wu Wei, não estamos falando de preguiça ou desistência, mas da arte de perceber quando insistir é apenas bater a cabeça contra a parede. O Tao nos convida a olhar a vida como um rio: se tentamos represar tudo, adoecemos; se seguimos o fluxo, chegamos mais longe.

 

Uma das várias lições que tive sobre Wu Wei

Tive várias lições duras na vida. Uma delas aconteceu por volta de 1986, quando decidi que iria, a qualquer custo, entrar na *CMTC,* a antiga empresa municipal de transportes coletivos. Estudei até a exaustão, fiz a prova e passei. Estava pronto para começar uma nova etapa. Mas, por ironia do destino, o telegrama da convocação chegou com dois dias de atraso, culpa de uma greve dos correios.
A chance havia escorrido por entre meus dedos.

 

Não aceitei. Repeti o processo. Fiz novamente, passei novamente. E, novamente, o telegrama atrasou. A frustração foi tão grande que a revolta tomou conta de mim. Eu não entendia, não aceitava. A vida parecia rir da minha cara.
Na terceira vez, quando chegou o dia da prova, algo dentro de mim simplesmente se dissolveu. Não compareci. Simples assim. Eu não queria mais. Não fazia mais sentido.

 

Foi nesse instante que percebi uma das lições mais duras e libertadoras: há coisas que, por mais que forcemos, não acontecem. Não por falta de esforço, mas porque simplesmente não têm vida própria.

 

Wu Wei não é desistir, é soltar

Na época, muitos disseram: “Você finalmente caiu na consciência. Moramos na periferia, certas coisas não são para a gente…”  Esse tipo de condicionamento mental era comum: o meio já estava satisfeito com pouco, e os tapinhas de incentivo vinham com um tom disfarçado de “vai lá, sonhador”.

 

Mas, no fundo, não era sobre aceitar derrota. Era sobre descobrir um outro jeito de lidar com a vida.
O Tao, através do Wu Wei, já me sussurrava naquela época (eu já mergulhava em leituras budistas, espíritas e taoístas), mesmo que eu ainda não tivesse clareza: *não lute contra o rio, aprenda a nadar com ele.*

*Wu Wei* não é passividade. É inteligência. É saber quando a força é natural e quando é artificial. É diferenciar o que cresce por si só daquilo que só existe porque estamos empurrando.

 

O bambu se curva com o vento, mas não se quebra. A rigidez é que leva à fratura. Minha rigidez em “ter que passar de qualquer jeito” me quebrou por dentro.

Quando finalmente soltei, percebi que a vida não estava contra mim, estava me ensinando. Aquilo que parecia fracasso era apenas um convite para redirecionar meus passos.

 

Essa sabedoria se aplica em tudo:

  •  Forçar alguém afetivamente a mudar é sufocar o amor. O amor floresce quando damos espaço para o tempo do outro.
  • Insistir em portas fechadas quando se trata de nossa vida profissional pode ser só desgaste; saber soltar abre caminhos inesperados.
  • Iluminação espiritual não é corrida, não é buscar um lugar onde tudo acontece, é espaço interno que se abre, se expande quando paramos de forçar.

 

Wu Wei é como o rio que não força nada, mas ainda assim fura pedra. A suavidade persistente vence a rigidez insistente.

 

Hoje, quando sinto que estou forçando demais, lembro das provas da CMTC, dos telegramas atrasados, de outras lições fortes da vidada, da felicidade quando tudo dava certo... da  revolta e da exaustão quando as coisas não seguiam...  Respiro e me pergunto:


“Estou nadando ou estou brigando contra a corrente?”

 

Quase sempre, a resposta é clara: é hora de soltar.
E nesse soltar, a vida, silenciosa, misteriosa e sábia, abre outras portas. Portas que não precisam ser arrombadas. Elas simplesmente se escancaram quando chega o tempo.


Wu Wei é isso: não desistir da vida, mas desistir da teimosia de querer que a vida seja do nosso jeito.

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