Quando o Passado Rouba o Presente

 

Há alguns anos, assisti a uma palestra de um amigo que compartilhou uma visão sobre o significado da palavra "perdão", que, embora não estivesse diretamente relacionada à etimologia, fez total sentido no nosso contexto psíquico.

 

Ele a associou a uma "perda", algo profundo, uma perda muito grande, um “PERDÃO”. Desde então, comecei a observar com mais atenção os comportamentos das pessoas ao meu redor e, surpreendentemente, percebi em mim mesmo situações cotidianas que me remetiam constantemente a um passado distante.

 

Estava, de alguma forma, negando o presente e vivendo em uma época que já não fazia mais sentido, como se algo no passado ainda estivesse me aprisionando.

 

Isso me fez refletir sobre como, muitas vezes, nos negamos a viver plenamente no agora, por estarmos presos a antigas feridas e sentimentos não resolvidos.


Você conhece alguém que já teve tudo e hoje vive aprisionado pelo próprio passado?

Ao longo da minha jornada, convivi com pessoas que experimentaram a abundância, viveram no topo e, de repente, viram tudo desmoronar. Mas o que mais me chamou a atenção não foi a perda em si — e sim a forma como ficaram presas a ela. Pessoas que um dia tiveram status, dinheiro, reconhecimento e, agora, vagam como sombras do que foram, recusando-se a aceitar a nova realidade. Eles não apenas perderam o que tinham… perderam a capacidade de recomeçar.

O pior não é a queda, mas a recusa em levantar. Eles tentam desesperadamente recriar um passado que já não existe, recusam-se a adaptar-se ao presente e, assim, sabotam qualquer possibilidade de um futuro próspero. Por que algumas pessoas se reinventam e outras passam a vida implorando por uma revanche que nunca virá?

No artigo a seguir, falo sobre esse específico e como ele vence vidas. Leia e descubra se você (ou alguém que conhece) está caindo nessa armadilha.

 

A reflexão sobre os tipos de perdão nos leva a um conceito fundamental que permeia a psique humana: a dificuldade de lidar com perdas irreparáveis. Entre essas perdas, há uma que se destaca por seu impacto psicológico profundo — a perda exagerada, que chamaremos de "perdão da perda grande". Trata-se de uma experiência tão marcante que, ao invés de ser processada e assimilada, torna-se um marco temporal fixo no inconsciente da pessoa, impedindo-a de seguir adiante.

Pensemos na metáfora do lutador que perdeu seu título e passa a vida inteira buscando uma revanche. Essa busca pode ser ilusória e destrutiva, pois a energia não é canalizada para a construção de algo novo, mas para a tentativa impossível de reverter o passado. Essa obsessão pode ser vista em pessoas que perderam status, poder, riqueza, reconhecimento ou mesmo um grande amor. Elas vivem aprisionadas por um desejo de restituição que, paradoxalmente, só as leva a novas perdas.

A literatura e o cinema estão repletos de exemplos que ilustram esse fenômeno. No clássico "O Grande Gatsby", de F. Scott Fitzgerald, o protagonista Jay Gatsby é um homem que constrói toda sua vida em torno da tentativa de reviver um amor do passado. Apesar de ter riqueza e status, ele não consegue avançar, pois sua mente está fixada em recuperar algo que já se perdeu. O resultado? Sua destruição emocional e, eventualmente, física. Esse é um exemplo claro de como a não aceitação da perda pode levar a uma vida de estagnação.

No campo psicológico, Carl Jung discorre sobre a necessidade de integração das sombras para o desenvolvimento do self. O indivíduo que não aceita suas perdas e vive preso a um passado glorioso não está integrando essa parte de sua história. Ele rejeita o presente e, ao fazer isso, rejeita a própria possibilidade de crescimento.

Pessoas que viveram em abundância e perderam tudo, mas não conseguem aceitar essa nova realidade, muitas vezes desenvolvem comportamentos destrutivos: arrogância, resistência à mudança, desperdício de recursos, rejeição a experiências simples e um narcisismo compensatório, onde se veem como superiores mesmo quando sua realidade diz o contrário. Elas não querem simplesmente prosperar novamente, querem retornar exatamente ao ponto onde estavam antes da queda, como se o tempo fosse um ciclo reversível e não uma linha contínua.

Por outro lado, há aqueles que compreendem a natureza da perda e a ressignificam. Viktor Frankl, em "Em Busca de Sentido", nos ensina que o ser humano pode encontrar propósito até mesmo na adversidade mais extrema. Se, ao invés de resistir ao presente, essas pessoas aceitassem sua nova realidade e buscassem aprender com ela, poderiam canalizar sua experiência para construir algo ainda maior. O problema não está na perda em si, mas na recusa em aceitá-la como parte da jornada.

A grande questão, portanto, é: como transformar o perdão da perda grande em um aprendizado real?

Primeiro, é preciso compreender que o passado não pode ser recriado, apenas reinterpretado. Depois, é necessário abrir-se para o presente, aceitar a vulnerabilidade e se permitir aprender novamente. Em última instância, a verdadeira revanche contra o passado não está em recuperá-lo, mas em superá-lo.

 

Esse comportamento de apego ao passado glorioso e incapacidade de recomeçar pode ser observado em diversas áreas da vida. Existe uma variedade de categorias e comportamentos inconscientes como podemos verificar a seguir:   

 

1. Viciados em Jogos de Azar

Já tiveram momentos de grande vitória e não aceitam que a sorte mudou.

Continuam apostando tentando "recuperar" o que perderam, muitas vezes se afundando ainda mais.

Vivem contando histórias de quando ganharam muito dinheiro, mas nunca falam das perdas.

2. Ex-integrantes de Marketing de Rede

Alcançaram um alto patamar financeiro e status dentro do sistema, mas depois perderam tudo.

Acreditam que, se insistirem, conseguirão repetir o sucesso passado.

Muitas vezes, saltam de um esquema para outro, buscando a mesma sensação de poder e dinheiro fácil.

3. Ex-milionários e Empresários Falidos

Tinham um negócio de grande sucesso, mas perderam tudo por má gestão, crises econômicas ou decisões erradas.

Recusam-se a aceitar novas realidades e insistem em fórmulas que já não funcionam.

Frequentemente, falam do passado como se ainda estivessem no auge.

4. Ex-famosos e Celebridades em Declínio

Eram reconhecidos por sua arte, talento ou influência, mas caíram no esquecimento.

Tentam forçar um retorno ao estrelato sem se adaptar às novas tendências.

Vivem comparando a fama atual com "os bons tempos" e criticando as novas gerações.

5. Ex-funcionários de Altos Cargos que Foram Demitidos

Ocupavam posições de liderança e prestígio em empresas, mas perderam o cargo por reestruturação ou incompetência.

Recusam-se a aceitar empregos abaixo do que tinham, mesmo quando precisam do dinheiro.

Continuam se comportando como chefes, dando ordens onde já não têm autoridade.

6. Ex-atletas que Perderam a Forma e a Carreira

Já foram ícones do esporte, mas hoje não têm mais o mesmo rendimento.

Muitos tentam voltar de forma desesperada, sem reconhecer suas limitações.

Alguns caem em depressão, vícios ou comportamentos destrutivos.

 

7. Pessoas que Tiveram Relacionamentos de Alto Status e Perderam Tudo

Já foram casadas ou namoraram alguém rico, poderoso ou influente, mas perderam esse parceiro.

Recusam-se a se envolver com pessoas "comuns" porque não querem aceitar que o passado ficou para trás.

Costumam ostentar uma imagem de luxo nas redes sociais, tentando parecer ainda pertencentes a um mundo do qual já não fazem parte.

Algumas tentam desesperadamente reconquistar o ex ou encontrar um parceiro semelhante, recusando-se a construir algo novo.

Sentem vergonha de sua situação atual e evitam círculos sociais que revelem sua "queda".

8. Artistas e Profissionais Criativos que Tiveram um Único Sucesso e Nunca Mais Conseguiram Repeti-lo.

Produziram uma obra famosa (música, livro, filme, invenção), mas depois nunca mais conseguiram replicar o sucesso.

Recusam-se a inovar e se adaptar às novas tendências, acreditando que o público precisa "reconhecer" sua genialidade passada.

Alguns se tornam amargos, criticando os novos talentos que conseguem sucesso.

Vivem de lembranças, dando entrevistas e palestras sobre “como foi estar no topo”.

9. Ex-Estudantes de Faculdades de Elite que Não Conseguiram Sucesso Profissional.

Estudaram em universidades renomadas, mas não conseguiram traduzir isso em uma carreira de sucesso.

Insistem em se apresentar como "ex-alunos de tal instituição", como se isso por si só garantisse status.

Sentem-se humilhados ao aceitar empregos que consideram abaixo de sua formação.

Muitas vezes, rejeitam oportunidades que poderiam trazer crescimento real, apenas porque não correspondem às suas expectativas grandiosas.

10. Herdeiros que Perderam a Fortuna Familiar.

Cresceram em uma vida de luxo, mas perderam tudo por má administração, crises financeiras ou outros fatores.

Se recusam a aceitar um padrão de vida mais modesto e continuam gastando como se ainda fossem ricos.

Muitos vivem de aparências, endividados, tentando manter um estilo de vida que já não podem bancar.

Podem desenvolver vícios, depressão ou comportamentos autodestrutivos ao perceber que nunca mais terão a vida que um dia tiveram.

11. Pessoas que Perderam um Cargo Político ou de Influência.

Ocupavam posições de poder e eram admiradas ou temidas, mas foram removidas, votadas para fora ou caíram em desgraça.

Continuam agindo como se ainda tivessem autoridade, dando opiniões como se fossem especialistas.

Tentam desesperadamente um retorno ao poder, muitas vezes sem perceber que sua era já passou.

Algumas se tornam figuras polêmicas, fazendo declarações absurdas para chamar atenção.

12. Ex-Influenciadores Digitais que Caíram no Esquecimento.

Já tiveram grande engajamento e relevância, mas perderam seguidores ou ficaram ultrapassados.

Muitos tentam de tudo para voltar ao topo, incluindo polêmicas, mudanças forçadas de nicho ou até mesmo comprar seguidores.

Alguns entram em depressão ou ansiedade ao perceberem que já não têm a mesma influência de antes.

Muitos criticam a nova geração de influenciadores, alegando que "no passado era melhor".

13. Pessoas que Perderam uma Fortuna em Criptomoedas ou Investimentos de Alto Risco.

Experimentaram o "gosto" do dinheiro fácil, mas não souberam sair na hora certa.

Continuam insistindo em recuperar o que perderam, investindo cada vez mais e perdendo ainda mais.

Passam horas assistindo a vídeos sobre como enriquecer rapidamente, mas evitam aprender estratégias sólidas de recuperação financeira.

Algumas desenvolvem paranoia e culpam "o sistema" ou "os manipuladores do mercado" pela sua ruína.

14. Ex-Líderes Religiosos ou Espirituais que Perderam Seguidores e Poder.

Fundaram ou lideraram grupos religiosos, mas perderam influência por escândalos, mudanças de crença ou disputas internas.

Continuam tentando recuperar sua posição de autoridade, às vezes criando novos movimentos que nunca decolam.

Alguns tornam-se críticos ferrenhos de suas próprias crenças antigas, como forma de chamar atenção.

Outros vivem tentando provar que ainda são especiais, buscando reconhecimento espiritual sem aceitar a realidade atual.



A Ilusão da Perda e o Medo do Recomeço

Dentro das categorias que mencionei anteriormente, há dois grupos que merecem uma reflexão mais profunda: aqueles que se aposentam e aqueles que deixam o emprego para empreender.

 

Embora pareçam trajetórias opostas. um saindo de cena após décadas de serviço, o outro buscando autonomia e novos desafios, ambos compartilham um dilema silencioso: a sensação de que perderam uma parte essencial de si mesmos no passado.

 

Recentemente, conversando com um amigo e cliente,  aposentado da área pública,  ele me trouxe um relato que a taxa de suicídio entre os colegas recém-aposentados era preocupantemente alta, embora raramente divulgada. Isso me fez refletir sobre como, muitas vezes, a aposentadoria não é celebrada como um novo capítulo, mas vivida como um exílio do próprio propósito.

 

O mesmo acontece com quem abandona um emprego estável para empreender. Muitos, mesmo depois de anos construindo um negócio, ainda sentem um impulso inconsciente de buscar "segurança financeira" em um emprego fixo. Superficialmente, a justificativa é simples: "preciso de um salário garantido". Mas, metafisicamente, o buraco é bem mais embaixo.

 

O que está realmente acontecendo?

 

O problema não está na aposentadoria em si ou na decisão de empreender, mas na forma como nossa mente processa essas transições. Para muitos, o passado não é apenas um tempo que passou, ele se torna um território sagrado, uma identidade cristalizada, algo que parecia fazer muito mais sentido do que o presente. Ao sair desse território, a sensação incosciente é de perda, e a reação instintiva é buscar uma forma de "reparação". Mas como reparar algo que, na verdade, nunca foi perdido?

 

Um ex-policial por exemplo não perde apenas um trabalho, mas uma identidade.

Por décadas, sua rotina é marcada por um senso de dever, respeito hierárquico e uma missão clara: proteger e servir. A farda não é apenas um uniforme, mas uma segunda pele. O distintivo não é apenas um objeto, mas um símbolo de pertencimento. Ao se aposentar, ele não está apenas deixando o trabalho, mas abandonando um mundo no qual se sentia essencial. Sem essa estrutura, muitos se veem à deriva, sem uma razão clara para acordar todas as manhãs.

 

Isso explica a alta taxa de depressão e doenças mentais entre aposentados de carreiras com forte identidade profissional, como policiais, militares e até atletas de alto rendimento. Eles viveram uma vida de propósito intenso e, ao perderem essa ancoragem, sentem como se tivessem sido exilados de si mesmos.

 

O mesmo padrão se aplica a quem larga um emprego tradicional para empreender. No começo, há o entusiasmo da liberdade, a empolgação de construir algo próprio. Mas, nos momentos de dificuldade, que inevitavelmente surgem, vem a tentação de olhar para trás. O emprego fixo, que antes parecia uma prisão, agora começa a ser visto como um refúgio seguro. A "estabilidade financeira" se torna um desejo constante, e muitos acabam se sabotando, flertando com a ideia de voltar ao passado em vez de se comprometer plenamente com o presente.

 

Isso acontece porque a transição de empregado para empreendedor não é apenas uma mudança de função, mas uma profunda transformação de identidade. No emprego tradicional, a estrutura já vem pronta: salário fixo, rotina previsível, um cargo que define quem você é.

 

No empreendedorismo, tudo isso desaparece, e o indivíduo precisa criar sua própria estrutura do zero. Para quem passou a vida dependendo de validação externa, seja de chefes, colegas ou clientes, essa ausência de reconhecimento imediato pode ser devastadora.

 

É por isso que tantas pessoas acabam "presas entre mundos": não querem voltar ao antigo emprego, mas também não conseguem se entregar completamente ao novo caminho. Esse limbo mental gera frustração, insegurança e, muitas vezes, leva à auto sabotagem. O empreendedor começa a tomar decisões movidas pelo medo, evitando riscos e limitando seu próprio crescimento.

 

Essa oscilação entre o passado e o presente é um fenômeno amplamente estudado na psicologia comportamental. Daniel Kahneman, em seu livro Rápido e Devagar: Duas Formas de Pensar, explica como o nosso cérebro tende a supervalorizar perdas e subestimar ganhos. O que isso significa na prática? Que muitas pessoas preferem se agarrar ao que perderam (o emprego, o status, a segurança) do que se abrir para novas possibilidades. Essa resistência ao novo impede a adaptação e transforma a transição em um fardo.

 

O problema não é a perda em si, mas a maneira como a mente lida com ela. Quando alguém acredita que a fase anterior da vida foi "o auge" e que tudo dali em diante é uma decadência, inconscientemente começa a viver de forma derrotista.


O policial aposentado que passa os dias lamentando a farda que não veste mais. O ex-executivo que evita admitir que seu novo negócio está patinando. O ex-jogador de futebol que insiste em contar suas glórias do passado, mas não constrói um novo caminho no presente. Todos eles estão presos na mesma armadilha: uma ilusão de que o melhor já passou e que qualquer outra alternativa será uma versão inferior da vida que tinham antes.

 

Mas o que acontece com aqueles que conseguem romper esse ciclo? Eles entendem que a perda não é uma sentença, mas uma transição. Que a aposentadoria pode ser um renascimento, não um fim. Que empreender é um convite para a autonomia, e não um castigo pela falta de segurança. Que o passado deve ser uma referência, não uma residência.

 

A verdadeira pergunta é: Você está vivendo sua nova fase com presença e coragem, ou apenas tentando recuperar algo que já não existe?


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