Antes que Seja Tarde: O Preço de Não Parar
Essa semana, uma cliente entrou no consultório. Não era a primeira vez — a acompanho há quase sete anos, a cada seis meses, como quem observa pequenas fissuras se formando lentamente. Mas naquele dia, algo estava diferente.
Olhos cansados, fundos, quase apagados; ombros curvados como se carregassem décadas de pressa; mãos inquietas. Havia tensão em cada gesto, em cada respiração curta.
E então ela falou, como quem revive um filme acelerado da própria vida:
“Eu corro… corro para tudo. Para ser pontual, para dar conta, para não perder nada. Até para me permitir algo, corro… porque até o cuidado virou compromisso. Uma massagem, uma hora na academia, uma sessão de terapia… tudo encaixado, cronometrado, nada vivido de verdade.”
E, como um refrão amargo, veio a justificativa:
“Não posso parar agora. Tenho contas, clientes, compromissos, família…”
Enquanto ouvia, podia quase sentir o tempo escorrendo entre os dedos dela — invisível, impiedoso. O café tomado às pressas queimando a língua; a respiração curta, quase sufocando; o sorriso que surge, mas não chega ao olhar — só uma obrigação mascarada.
E, sem aviso, o corpo começou a cobrar. Um susto silencioso: tensão que grita, mente que trava, sinais que não podem mais ser ignorados. A pausa que ela sempre empurrou para depois se impôs brutalmente.
“Eu não posso mais.”
A frase caiu como uma lâmina. Naquele instante, a tragédia se revelou: a vida que poderia ter sido sentida, vivida, apreciada… já não estava disponível. Só restava o eco do tempo perdido, dos momentos adiados, das escolhas que nunca foram feitas.
Enquanto ela falava, pensei em quantas pessoas ainda correm assim — acumulando justificativas, acreditando que controlam o tempo.
O tempo não espera. Ele não perdoa.
O que se perde entre corridas, compromissos e agendas cheias… não volta.
E o que mais assusta não é a pressa — é o silêncio com que adiamos a própria vida. Cada pequeno “não posso” é uma fração de existência que desaparece.
Quando finalmente somos obrigados a nos permitir… muitas vezes, já é tarde demais. O corpo e a mente falam por nós, e então percebemos, tarde demais, que o tempo para sentir, para existir, para estar presente, já se foi.
Siga-nos nas nossas redes sociais:
Nosso canal no whats: https://whatsapp.com/channel/0029VaeiTZlCsU9WL1RAJ61c
Comentários
Postar um comentário